quarta-feira, 22 de abril de 2009

Fazer de mim

Estrearam-se no Teatro, esta noite de 21 de Abril, o Alexandre, a Daniela e a Marta perante um auditória cheio de amigos. Não houve lugar sentado para todos. Muitos ficaram de pé, nas coxias ou numa qualquer nesga de espaço onde os olhos pudessem chegar ao palco. Também eu já olhei o palco e bem mais vezes do que o pisei. E ao olhá-lo vi-me nele. E ao pisa-lo senti-me mais perto de mim. Sim, claro que já ouvi a célebre frase de que o actor está mais perto do personagem quando tem a capacidade de abrir as suas gavetinhas e emprestar, ao personagem, as emoções que por lá andam perdidas. Sem estar à espera, creio que senti isso mesmo na minha estreia, há um ano atrás, neste mesmo espaço. Senti-me, por breves momentos, perdido em mim, alheio do palco. Momentos que registei para sempre. Foram dos mais importantes na minha vida! Um ano depois e a poucas horas de estrear a peça deste ano dei comigo a pensar, na azáfama do camarim enquanto despiamos as roupas do actor e vestiamos as do personagem, que o Teatro parece ser, acima de tudo, um caminho que me conduz a mim mesmo. Um caminho que permite despir-me dos personagens que, inconscientemente, encarno todos os dias, para vestir-me de mim e, assim, estar mais perto dos que comigo ali estão, no palco e na plateia. Sermos o que somos. Tarefa difícil, por muito estranho que nos possa parecer. Têm-me dito que tenho jeito para isto do Teatro. Desconfio que não seja verdade. Não por que não confio neles mas, talvez, por que ache que não tenho, isso sim, muito jeito para fazer de mim.
PEÇA: "Duas Cartas" de Júlio Dinis com adaptação da actriz e encenadora Isilda Paulo.
LOCAL da ESTREIA: Aud Lourdes Norberto, no Âmbito da Mostra de Teatro de Oeiras 2009.
GRUPO DE TEATRO: Artes Cénicas Ass. 18 Maio Outurela

2 comentários:

  1. Fiquei a pensar no porquê da personagem fazer o actor sentir-se mais próximo de si, de se sentir a "fazer de si mesmo" ... e neste preciso momento em que escrevo,francamente, nenhuma razão me esclarece a certeza que tenho desta grande verdade. Ao vestir a personagem o actor torna-se mais verdadeiro apesar de fazer de conta que é... Disso não tenho dúvida... senti-o há um ano atrás, contigo no palco,estreia também para mim,naquela noite assustadoramente deslumbrante!
    Continuo a pensar.. mas nada.. é estranho, lá isso é - A verdade(do actor)colado à fantasia (do personagem).
    O teatro é um caminho que te conduz a ti mesmo dizes...No trilho do passado,como especial admiradora do teu percurso, também te vejo cada vez mais conduzido por ti próprio, como se os teus passos tenham em cada pedra que te fez cair acrescentado uma inevitável intuição para o caminho da tua verdade(ou felicidade?). Terás deixado o papel de espectador e agarrado a verdade no palco da tua vida? Andas a ensaiar eu sei..assiduo e confotável no divã.Também acho que tens jeito para isto do teatro.Quando ao à falta de jeito para "fazeres de ti", não te preocupes! é mesmo assim.. faz parte da confusão que encontramos quando, mais perto de nós, vimos o que estava escondido nos camarins.
    Ainda sobre o porquê que me pôs a pensar... será o papel no palco (do teatro) e independentemente do cariz da personagem vestida pelo actor,a forma onde o actor enforma a sua verdade? Será, o palco escorregadio(da vida) e a "forma" que (os outros) nos dão, razão suficiente para deixarmos a nossa "alma" escondida?
    O pano está a subir.. e eu vou estar sempre na tua plateia meu amigo!

    Sofia

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  2. AMIGO,
    o teatro é uma segunda vida, uma segunda alma, o incorporar de uma personagem em nós que já somos múltiplos. Nunca representei mas ensino teatro numa perspectiva literária e diariamente me revejo perante a segunda pele das personagens que surgem.
    Bem hajas pela tua entrega e pela tua dedicação.
    Amanhã lá estarei.
    Carmo

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