terça-feira, 23 de março de 2010

Olhar o MEDO

http://linguamodadoisec.blogspot.com/2010/03/ensaio-sobre-o-medo.html

"No Teatro descobri que existem duas realidades, mas a do palco é muito mais real"
São palavras de Arthur Miller que encontrei quando pesquisava sobre a sua vida, e que escolhi para baptizar o blogue do ArtesCénicasGrupo.
Na minha estreia no Teatro, há cerca de dois anos, senti o que mais tarde viria a descobrir nestas palavras de Arthur Miller. Senti, por momentos, estar a ser mais verdadeiro em palco do que na vida. Ou quanto muito, mais esclarecido. Talvez Calderón tenha razão quando escreve que a vida é um sonho e a única coisa real é a finitude. Ouso dizer que o Palco fica no meio, por que lá abrimos os poros, como que se de vulcões se tratassem, e enchemo-lo com o que vai cá dentro. Haja disponibilidade para que tal suceda. Um fenómeno generoso para o próprio actor e consequentemente para quem nos dá a honra de nos vislumbrar da Plateia. Arriscaria até a dizer que o personagem sabe mais do actor do que o próprio actor de si mesmo.
O encenador Rui Mendes disse numa entrevista que o actor tem a possibilidade de fazer em Palco o que não pode fazer no dia-a-dia. A esta frase, eu acrescentaria o verbo ser. O Actor é em palco o que tantas vezes esconde na vida. Ou ainda, o actor descobre em palco o que nem sempre descobre na vida, a não ser que tenha a pertinência de se percorrer, de olhar para dentro, de conseguir estar em silêncio, mesmo que acompanhado. E para isso é preciso coragem para enfrentar o MEDO que surge quando se decide fazer tal percurso. O MEDO que é exclusivamente fruto das nossas mentes.

Do teu texto tão belo, claro e magnificamente escrito, e em relação ao meu desempenho, apenas consigo confirmar a minha postura séria e empenhada. Por que é desta forma que encaro o Teatro. Estou sempre ansioso pela chegada dos dias do espectáculo. Quanto às restantes palavras, registo tudo para que, nos dias de dúvida, as possa reler de forma a nunca desistir. Mas permite-me ainda que as comente da seguinte forma. O Mundo é conforme o vemos. Cada um vislumbra-o de forma diferente e com distintas totalidades. O que viste no sábado está sobretudo em ti. Encontras-te, na peça, a tua cor. Há quem encontre cores diferentes da tua. Há quem encontre até cores desagradáveis. Há quem não encontre qualquer cor. Diria que esta última é a que nos convém menos. Sobretudo, estamos ali para contar uma história que só é passível de ser contada se o actor tiver disponibilidade para gerar conflito na sua personagem. Se isto acontecer, em principio, os espectadores encontram as suas cores, despoletando-lhes emoções, sejam lá quais forem.
Como disseste, mal nos conhecemos. Creio que nos vimos apenas 3 vezes na vida. Fico muito feliz por saber que viste na nossa peça essa cor forte, positiva e cheia de vida que usaste para escrever tais palavras. Palavras que surgem de ti.

Um Abraço,

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