domingo, 9 de janeiro de 2011

Um Dia Aprendes…

Depois de algum tempo aprendes a diferença, a subtil diferença, entre dar a mão e acorrentar uma alma. E aprendes que amar não significa apoiar-se, e que companhia nem sempre significa segurança. E começas aprender que beijos não são contractos e presentes não são promessas. E começas aceitar as tuas derrotas com a cabeça erguida e os olhos adiante, com a graça de uma criança e não a tristeza de um adulto.
E aprendes a construir todas as tuas estradas no hoje, porque o terreno de amanhã é incerto demais para os planos, e o futuro tem o costume de cair ao meio em vão. Depois de um tempo aprendes que o sol queima se ficares exposto por muito tempo. E aprendes que não importa o quanto te importes, algumas pessoas simplesmente não se importam... E aceitas que não importa quão boa seja uma pessoa, ela vai magoar-te de vez em quando e tu tens de perdoá-la por isso.
Aprendes que falar pode aliviar as dores emocionais. Descobres que se leva anos para se construir confiança e apenas segundos para destruí-la e que tu podes fazer coisas num instante, das quais te arrependerás para o resto da vida. Aprendes que verdadeiras amizades continuam a crescer mesmo em longas distâncias. E que o que importa não é o que tens na vida, mas o que és na vida. E que bons amigos são a família que nos permitiram escolher. Aprendes que não temos de mudar os amigos se compreendermos que os amigos mudam, percebes que o teu amigo e tu podem fazer qualquer coisa, ou nada, e terem bons momentos juntos.
Descobres que as pessoas com quem mais te importas na vida são tomadas de ti muito depressa, por isso, sempre devemos deixar as pessoas que amamos com palavras amorosas, pode ser a última vez que as vemos. Aprendes que as circunstâncias e os ambientes têm influência sobre nós, mas nós somos responsáveis por nós próprios. Começas aprender que não te deves comparar com os outros, mas com o melhor que tu mesmo podes ser. Descobres que levas muito tempo a tornares-te na pessoa que queres e que o tempo é curto. Aprendes que não importa onde chegaste, mas onde vais. Aprendes que, ou tu controlas os teus actos ou eles te controlarão, e que ser flexível não significa ser fraco ou não ter personalidade, pois não importa quão delicada e frágil seja uma situação, sempre existem dois lados.
Aprendes que heróis são aqueles que fizeram o que era necessário fazer, enfrentando as consequências. Aprendes que paciência requer muita prática. Descobres que algumas vezes a pessoa que esperas que te calque quando cais é uma das poucas que te ajuda a levantar. Aprendes que a maturidade tem mais a ver com o tipo de experiências que tiveste e o que aprendeste com elas do que quantos aniversários celebraste.
Aprendes que há mais dos teus pais em ti do que suponhas. Aprendes que nunca se deve dizer a uma criança que sonhos são tolices, poucas coisas são tão humilhantes e seria uma tragédia se ela acreditasse nisso. Aprendes que quando estás com raiva tens o direito de estar com raiva, mas isso não te dá o direito de seres cruel.
Descobres que só porque alguém não te ama da maneira que queres que te ame, não significa que esse alguém não te ame, pois existem pessoas que nos amam, mas não sabem como o demonstrar.
Aprendes que nem sempre é suficiente ser perdoado por alguém, algumas vezes tens que aprender a perdoar-te a ti mesmo. Aprendes que, com a mesma severidade com que julgas, serás em algum momento condenado. Aprendes que não importa em quantos pedaços o teu coração foi partido, o mundo não pára para que o concertes.
Aprendes que o tempo não é algo que possa voltar para trás. Portanto, planta o teu jardim e decora a tua alma, em vez de esperar que alguém te traga flores.
E aprendes que realmente podes suportar... que realmente és forte, e que podes ir muito mais longe depois de pensares que não podes mais. E que realmente a vida tem valor e que tu tens valor diante da vida! As nossas dúvidas são traidoras e fazem-nos perder o bem que poderíamos conquistar se não fosse o medo de tentar.
William Shakespeare

terça-feira, 1 de junho de 2010

Cântico negro

"Vem por aqui" - dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.
- Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?

Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tectos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém.
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!
José Regio pseudônimo literário de José Maria dos Reis Pereira, nasceu em Vila do Conde em 1901. Licenciado em Letras em Coimbra, ensinou durante mais de 30 anos no Liceu de Portalegre. Foi um dos fundadores da revista "Presença", e o seu principal animador. Romancista, dramaturgo, ensaísta e crítico, foi, no entanto, como poeta. que primeiramente se impôs e a mais larga audiência depois atingiu. Com o livro de estréia — "Poemas de Deus e do Diabo" (1925) — apresentou quase todo o elenco dos temas que viria a desenvolver nas obras posteriores: os conflitos entre Deus e o Homem, o espírito e a carne, o indivíduo e a sociedade, a consciência da frustração de todo o amor humano, o orgulhoso recurso à solidão, a problemática da sinceridade e do logro perante os outros e perante a si mesmos.

terça-feira, 25 de maio de 2010

O Palco

A força de uma vida a formar-se no dia a dia, que parte e que fica. Para de novo partir. Para de novo ficar. Assim amanhece a rotina que nunca o é. Que nunca o foi. Que jamais o será... Porque o Palco será como as arvores. Ficará de pé, ainda que de raízes seja, por que delas nascerá um novo empenho, nova entrega e renovada alma.
Reinaldo Serrano in Globos de Ouro 2010, prémio mérito e excelência a Artur Agostinho.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Ensaio sobre um sonho

O miúdo partilhou o quarto com o irmão, até aos treze anos. Na verdade partilhou 2 quartos, cada qual em casas diferentes. Até aos dez anos, viveram junto à serra. Depois, até aos treze, na cidade. Foi aqui, na cidade, que o miúdo teve de mudar de quarto. Não por que quis, mas por que as circunstâncias assim o exigiram. O irmão, nesta altura com dezassete anos, iria ser pai dentro de seis meses. O casamento do irmão havia de se realizar à pressa, um mês após o anúncio da gravidez. Ninguém poderia sequer imaginar que a futura cunhada estava grávida, como se esta tamanha maravilha na natureza constitui-se a figura de pecado capital. Eles casaram em Janeiro. O bebé viria a nascer no início de Julho, perto das vinte horas. O miúdo jogava à bola como sempre fazia de manhã à noite. A bisavó chamou-o da varanda, usando o habitual e afectuoso diminutivo. O miúdo atendeu à chamada pensando que estava na hora do jantar. Ao chegar junto do prédio, a bisavó anunciou-lhe que a sobrinha tinha nascido. Ele sorriu, pensando que a notícia era duplamente boa. A sobrinha tinha nascido e que ainda não estava na hora do regresso a casa o significava poder continuar o jogo da bola. Por esta altura, o quarto onde dormia era o quarto de férias, o da casa junto à serra. Outrora o primeiro dos dois quartos que partilhara com o irmão. As aulas já tinham terminado. Já tinha terminado esse difícil período de seis meses em que teve de ceder, não apenas o seu quarto, mas também a companhia do irmão, à sua cunhada. Sentiu-se trocado, subestimado, usurpado. Durante seis meses teve de voltar a dormir no quarto dos pais, num sofá cama apertado, encostado junto à janela.
O quarto que dividia com o irmão deixou de lhe pertencer, pertencendo-lhe. O canto direito do quarto. A sua cama estava encostada à parede, à sua parede repleta de posters geometricamente colocados. Tanta dedicação. O maior dos posters era dos Kiss, que haviam lançado recentemente o sucesso “I was made for loving you”. Um canto do quarto construído ao pormenor, do qual teve de se afastar abruptamente. Sentiu perda, subestimação, usurpação. Teve de o ceder ao novo elemento da família, que viriam a ser dois, data limite para o voltar a recuperar, ainda que as férias do verão servissem de fronteira, não recuperando, porém, jamais a partilha do espaço com o irmão. Momentos difíceis que não lhe escapariam do subconsciente, ainda que fosse pelo mais nobre dos motivos, o Amor. O Amor do irmão e da cunhada que viria a resultar no nascimento de uma bebé linda. O miúdo foi afastado, abruptamente, do seu espaço, colocado num canto, como se fosse o menos importante da família, depois de tanto se ter dedicado a ela. Não queremos que te vás embora, mas o que temos para ti é aquele canto, sentiu. De tal forma que, vinte e sete depois, estas memórias lhe serviriam de base para um sonho revelador. Os sonhos que são o espelho do subconsciente. O cenário desse devaneio nocturno foi a casa, o seu quarto, cada canto desse lar. Ao chegar, no regresso a casa, deparou que estava ocupada por gente sinistra, deformada, enferma. Como se não bastasse a simples usurpação do lar que lhe pertencia, cada canto da casa estava preenchido de decadência. Uma das pessoas, uma mulher com quem nunca havia falado, tinha as pálpebras do olho direito suturadas, horrivelmente suturadas. Era a mulher do salteador. Cada qual em camas diferentes com parceiros descartáveis. Eles e os amigos que entretanto iam invadindo a casa. Como que em “Feios, Porcos e Maus” filme de Ettore Scola, 1976. Um sonho horrível, um pesadelo, ao deparar-se com estas imagens, estar dentro delas, e ainda mais sobrando-lhe apenas um canto. Ainda que fosse um canto, como já lhe havia acontecido realmente no passado e mesmo que desta vez o motivo não fosse nobre, mas nunca partilhado com gente tão sinistra quanto esta que lhe surgiu no sonho. A visão de um lar desfeito, entregue à degradação, depois de tanta dedicação.
O miúdo, agora adulto, acordou. Acordou angustiado. Fazer o luto do sonho, é o primeiro passo. Construir um novo lar é o caminho seguinte. Primeiro é preciso encontrar o cenário mais adequado. Depois é preciso vivê-lo. A sós, em paz. Viver cada canto em partilha com quem lhe faz realmente sentido. Olhando em frente, rumo a si mesmo, à sua mais profunda natureza. I was made for loving you. Kiss.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Na medida do que sinto

Pormenores de nós. Cada cena. Cada beijo. Cada olhar. Cada sorriso. Cada palavra. Cada lágrima. Cada peça que constitui o puzzle que somos. O que mais quero é terminar o puzzle, apesar de saber que nunca vou conseguir. Ter-nos por inteiro. E tanto de nós na caixa. Fria por fora. Fervilhante por dentro. Um vulcão adormecido pelas circunstâncias. Um espaço reduzido, sendo enorme. Valor. Nada mais valioso que cada pormenor. Estar com a pessoa certa no lugar certo, palavras que te pertencem. O Palco. A verdade. Tudo numa caixa que cheira a azul. Cheiro de luz. Cheiro das lágrimas que não param de cair. Tens-me puro, as lágrimas são fruto da luz que tenho dentro. Amor. Pormenores de nós que fazem parte do que sou. Farão sempre parte do que sou. Sou Amor. Sou tu. Ocupam tudo o que vejo, o que sinto, o que cheiro, o que oiço. É quente o que oiço. I love you so... canta o ipod. Lembras-te quando dancámos partilhando o ipod, com o monte lá ao longe? O conteúdo da caixa circula em mim como o sangue. Um espaço exclusivo como cada veia que liga as partes do meu corpo, que é teu. Como se o Mundo fosses tu. Tudo tão simples. Tão próximo. Tão lindo. Tão à mão. Tão distante. O pormenor da caixa. Sou uma caixa. És uma caixa. Ninguém, para além de nós, sabe o que guarda. O seu conteúdo. O significado de cada objecto. Das peças que estão por juntar. O espaço da caixa ocupado por cada afecto. Afectos que começámos a trocar onde a realidade é mais verdadeira. Afectos que são tudo. Que mais há de importante que os afectos? O cheiro azul está tão intenso. Alucino agora mesmo. A caixa deixou de existir. Estou contigo de mão dada. Estamos livres. Sorrimos. Somos unos. As cores do cenário cantam em cada passo que damos, passos de crianças que somos. O sol brilha, sorrindo. O mar tem peixes enamorados. As nuvens beijam-se. Estamos de mãos dadas, saltitando de felicidade. Um beijo agora. Outro e outro. Sorrisos. Dá-me esse sorriso de lingua no meio dos dentes. Deixo de alucinar. Está tudo na caixa. Até o que alucino. Tudo na caixa. Tudo o que partilhámos e os sonhos. Caixa, o que esconde, sinónimo de amor. Cada pormenor do que guarda saido do que és... Amor. Amáste-me hoje, sem sequer nos tocarmos. Sonho contigo a cada instante. Como que tudo fosses tu. O Mundo. Ter o Mundo? O Puzzle. Quero juntar cada peça. Fazer do puzzle, nós. Quero terminar o puzzle, mesmo que tenhas ficado com algumas peças. Vou termina-lo, mesmo sabendo que não vou conseguir. Vou termina-lo por que, lá está, és minha na medida em que te sinto. Um sonho achar que o que se sente é tudo, que nada mais interessa. Um sonho sim, mas um sonho pelo qual não desistirei de lutar. Sentir é tudo. Agora. Para sempre. Até sempre, Luz. Um beijo, na medida do que sinto...

terça-feira, 4 de maio de 2010

Dhanêbade

No sábado fui jantar aquele nepalês. A nossa mesa estava vazia, estando cheia. Cheia do teu cheiro. O Eme reparou que não estavas comigo. Talvez por isso me tenha conduzido para a mesa que restava. Um curto percurso iluminado pelo teu odor. Esse de que sinto falta. Que me torna lúbrico, inebriado, arroubado. Talvez uma dhaulagiri sigada me alucine, pensei. Como se fosse possível que o paladar maravilhoso daquela chamuça de frango acompanhada por uma Thon tão fresca como o topo dos Himalaias pudesse fazer-te aparecer diante de mim. Repeti a dose como da nossa vez. O menu foi o mesmo. As thon é que forem em maior número. O jantar passou rápido. Três horas de conversa em muito boa companhia, mas sempre contigo em mim. Segui depois para a Comuna. O teatro de pesquisa completava 38 belos anos de arte. Nada melhor, depois de um belo jantar, senão festejar o teatro. Foi como se estivesse em casa. Um regozijo de família, mesmo não conhecendo ninguém. Gosto de sítios onde não conheço ninguém. Uma festa preparada ao momento. Fiquei a saber que, em Setembro, a Comuna promove um imperdível workshop de três meses. Quis fazê-lo em Fevereiro mas não pude por boas razões. O meu grupo, ou melhor, o grupo de teatro de que faço parte estrearia a nova peça de Brecht e Pirandello no início de Março. Uma festa como daquelas que gosto. Sem grandes cenários. Onde ninguém é igual ao do lado. Gosto de gente diferente. Que escapou à linha de montagem. Com saber alternativo. Dançámos o tempo todo. De cerveja na mão. Ou, de thon na mão se ainda estivéssemos no restaurante. Para ser perfeito, apesar de estares em mim, era lá estares. Precisei de te beijar prolongadamente em cada canto daquele espaço. Como se de adolescentes nos tratássemos, como daquela vez. Qual rei a cavalo. Queria tanto que ali estivesses para te beijar, dançar contigo, te abraçar, cheirar, rir, tocar-te, povoar de nós cada canto. Fi-lo de certa forma. Se estás em mim então fi-lo. O que está em mim existe. É real. Então fi-lo. Foi uma noite daquelas que guardo em mim. Feliz. Em boa companhia, por dentro e por fora. Dhanêbade por me sentir assim. Dormi poucas horas. Esperava-me um dia de trabalho. Um dia longo. Difícil. Andei às voltas com um telefone novo que não tocava. Pensei até que este acessório, como todos, dispensável, teria os dias contados. Afinal, para que serve se não tocava. Finalmente tocou. Mais do que uma vez, até. Mas nunca foste tu. Uma das chamadas que recebi foi da minha mãe que me quis beijar por ser seu filho. Deveria ter sido eu a ligar. Afinal o dia era da mãe e não do filho. Mas que interessa isso. O que é determinante é aquilo que representamos um para o outro. Os dias são apenas aquilo que fazemos deles e não o que é suposto fazer-se deles. Somos aquilo que sentimos. O que sinto é uma luz de cor azul.
PS: Eme, dhanêbade pelo convite que me fizeste para visitar o teu idílico Nepal. Prometo-te que um dia irei.

domingo, 2 de maio de 2010

Três ou quatro coisas

-Achas que eu poderia ser um bom pai?
Não quero dizer pai biológico... refiro-me a outro tipo de pai. Um bom pai, sabes como é.
-Um bom pai?
-Sim. Um homem com cabeça, coração e alma. Um homem que seja capaz de ouvir, guiar e respeitar uma criança, e de não sufocar nela os seus próprios defeitos. Alguém que um filho não só ame por ser seu pai, mas que admire pela pessoa que é. Alguém com quem se queira parecer.
-Por que me pergunta isso? Pensava que o senhor não acreditava no casamento nem na familia. O jugo e tudo isso, lembra-se?
- Olhe, tudo isso são caganifâncias. O casamento e a familia não são mais do que aquilo que fazemos deles. Sem isso, não são mais que uma caterva de hipocrisias. Ninharias e palavreado... Esta vida vale ser vivida por três ou quatro coisas, e o resto é adubo para o campo.
Carlos Ruiz Zafón in A sombra do vento, 2004.