A palavra Amor ecoou na sala. Eu entrei. A buzina tocou acompanhada de um aplauso. Um aplauso que não sei se mereço. Conheci o sopro que a fez produzir o agudo Dó, ou talvez um Mi. A buzina tocou, tocou-me no coração que batia mais do que habitual, não apenas pelo respeito que o palco merece mas, também, pelos restícios da noite cheia. Cheia, de Lua, mas também de nós os três. Simplesmente os três. Começámos por degustar temaki de Salmão, passámos pelo sushi, pelo brinde ao motivo que nos juntou, pelo sashimi, pela partilha do momento tranquilo. Preciso de estar tranquilo. Disse-lhes que me sinto amigo delas. E fomos, levados sem destino nesta noite cheia, de Lua, mas também de nós os três. E de repente, estávamos a dançar no bar do João. Não o vi, mas ele estava lá. Da última vez que me cumprimentou, com a cortesia e o sorriso de sempre, revelou-me que andava na luta. Mas a doença venceu-o. Bebi a Sagres preta, tão fresca quanto as dezenas que me serviu, em sua homenagem. A única vez que vi o João fora do bar, foi no Mercado da Ribeira, creio que num domingo à noite, certamente que há mais de dez anos, numa feira de alfarrabistas. Ia com a mulher e com a filha que teria, por essa altura, uns oito anos. Esqueço-me de tanta coisa, mas esta imagem continua cá. Por que será? Pela serenidade com que olhava os livros, ao lado da Família? Já sei, talvez seja pelo Amor que lhes parecia ter. Ele que viu muito Amor acontecer à frente dos seus olhos, ao som de Janis Joplin.
"Mercedes Benz" voltou a tocar nesta noite, como sempre, às quatro em ponto, depois de termos dançado, os três, sem parar. E como se não bastasse, deixámo-nos conduzir pelos nossos corpos rumo ao número sete das Escadinhas da Praia. A primeira vez que lá fui teria uns vinte anos. Foi há vinte anos. E continuámos a dançar até cair. Até cairmos num saboroso Caldo Verde e demais acessórios. A noite cheia, de Lua, mas também de nós passou a voar. Partilhámos, os três, um abraço de despedida. No início do momento tranquilo, nove horas antes, calculei, mal, que iria regressar cedo a casa. Se bem que, de certa forma, foi o que aconteceu, cheguei à hora a que muitos se levantam. Dormi cinco horas e segui para o ponto de encontro da trupe. A ressaca ainda não tinha tido tempo de chegar. Agarrei o volante da camioneta, e conduzi a trupe à santa terra. O Teatro começou cinquenta minutos após a hora marcada, para que o digníssimo senhor presidente da junta não perdesse pitada. E não perdeu. Até a surpreendente buzina acompanhada por um aplauso que não sei se mereço, ele escutou. A buzina tocou, mal pisei o palco. Conheço o sopro que a fez produzir o agudo Dó, ou talvez um Mi. A Buzina tocou, tocou-me no coração que batia mais do que habitual, não apenas pelo respeito que o palco merece mas, também, pelos restícios da noite cheia. A ressaca tinha chegado uns minutos antes. Tive até medo de desmaiar no Palco, de tanta fraqueza que tinha no corpo. O toque conduziu o meu corpo até ao Minuete. E chorei, nesta data querida, com quarenta Rosas abraçadas ao lado esquerdo do meu peito. Foi uma tarde cheia de nós.
"Quanto mais penso na minha situação actual, mais me capacito que a sociedade 1º de agosto santairense é um local encantado, povoado de família: A família-família, a família-amigos e a família-teatro. Não poderia ter festa melhor. Espero que, tal como em "As Duas Cartas", o AMOR prevaleça em mim e que tudo vença", disse à família, usando algumas palavras do personagem que faço nesta peça, João de Sousa.
É o que espero dos anos que me restam. AMAR.
PS: Não me posso esquecer que a caixinha de música "free as a wind" só funciona se lhe rodar o manípulo.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Isso é que é falar com paixão... Paixão pela familia, pelos amigos, pelo teatro,...pela vida... E isso não é um dado adquirido, requer um esforço diário.
ResponderEliminarQue boa onda!
Olha lá ao fundo! Bela onda! Vai, vai, é agora, força, apanha a onda! Boa!!! Grande onda!!!! Em cheio!!! Lindo!!!
Adorei ver-te em palco. Encarnaste muito bem a personagem do teu João de Sousa. Não se notou nada que estavas de ressaca. A postura, a expressão do olhar...estavam impecáveis! Os teus colegas também estiveram impecáveis. Pareciam todos profissionais.
Gostei muito de falar com a tua colega Isilda e gostava de dar-lhe muitos parabéns pois penso que faz hoje anos.
Muita energia para as próximas actuações!
Cristina
Lindo como tu :-) Ayala
ResponderEliminarEu sou o/a da Buzina. São 40 anos pá, merece ou não merece uma fanfarra. E pr`a mais é artista!
ResponderEliminarFoi um bom espectáculo. A continuar a Associação anfitriã teria telhado até ao fim do ano. Com toda a certeza.
Ao poeta/actor Jorge Gomes, e à Companhia de "Curiosos", os nossos sinceros Parabéns.
Mafalda e Ricardo
P.S. Os croquetes estavam óptimos.