Custa-me dizê-la. Não a vejo como uma palavra fácil. Foi sempre assim. Ao pronuncia-la o medo surge. Nem sei se tenho direito a dizê-la, ainda que esteja cá dentro cheia de vontade de viver.
Devia proteger-te. Afinal, o teu Mundo parece bonito. Mas, por que será que treme? Sendo uma questão que se te dirige, a verdade é que também me toca. Até por que sou frágil. E ela, a palavra-chave, quando vem à janela ainda mais frágil me deixa. Fico assustado. Ela quer vir à janela, como sempre quis. Mas nunca lhe dei grandes oportunidades. Eu fecho o estore para que apenas consiga espreitar sem ser vista. Mas, de vez em quando, apanha-me distraído e abre, como que por milagre, o estore e depois as portadas e faz-se anunciar ocupando toda a janela. E de repente, tudo à volta da janela deixa de se ver de tão forte que é a intensidade do foco de luz que a ilumina. Nem sei se tenho o direito de a enclausurar. Nem sei se quero. Não quero. De tal maneira que fico muito feliz quando ela me ludibria, sempre que conseguiu tamanho mérito. Fico feliz mais ainda mais frágil. É como que olhar uma criança, iluminada pelo sol, a brincar num cenário idílico. Porquê enclausura-la? Será que tenho medo que a Luz que a ilumina, de repente, se extinga? Tenho medo sim. Imagina essa criança a brincar nesse cenário idílico e de repente a Sol põe-se! O pôr-do-sol é lindo como ele só. Talvez seja por isso que a chegada da noite não seja tão assustadora. Mas imagina essa criança sem Luz, assim de repente. O cenário apesar de lá continuar, desapareceria. O calor da luz deixaria de se sentir. A frialdade do negrume assumir-se-ia. O cheiro seria diferente. Os olhos deixariam de ver, apesar de não sofrerem de qualquer afecção. A pele ganharia diferente forma. As lágrimas constipariam o cenário. A voz identificaria o sofrimento, tal era o desespero da criança por não ter quem a protegesse. Quem a levasse de volta ao lar, ao impulso, ao afecto… ao leite. Um Adamastor. No entanto, tudo está igual. O que apenas mudou foi a luz que voltará na manhã seguinte. Mas a criança ainda não sabe que tudo está igual, menos a tonalidade. Não sabe que a luz voltará ao amanhacer. Não sabe como se defender. Como encontrar o porto seguro. O Leite. Se não crescer, mesmo que o corpo se torne adulto, nunca viverá. Imagina uma mãe que não deixa o filho sair de casa para evitar qualquer oportunidade de que encontre o perigo. Enclausura-lo é mais fácil. Não o pode perder. Nada ganha. É de um egoísmo prodigioso, atroz. Para além de lhe usurpar a possibilidade de crescer, de aprender, de viver. Isto só é possível por que ela própria não é ninguém sem o rebento. Não existe, existindo. Não é livre. Nunca aprendeu a estar só, a ser capaz de metabolizar perdas ou seja lá o que for. Em consciência ninguém pode escolher tal caminho. Ou pelo menos deixar de tentar outro. A vida é só uma. Ninguém tem direito de o fazer. Não tenho direito de o fazer. Apesar de ser minha, a vida que tenho, não posso censura-la, censurar-me. Independentemente do que o futuro desenhar para mim. O futuro desenha para mim o que eu quiser. Por isso, se viver de janela fechada, o caminho será certamente decrépito, íngreme, incolor, será frio e sem odor, de frugais palavras e de comprimidos compassos. Sem emoções. Lento. Vazio. Fácil, sendo difícil. Não se ganha, não se perde, tudo se perdendo. Sem perigo aparente. Com perigo oculto. O perigo oculto é fulminante. A morte súbita não se faz anunciar ao perigo. Logo, ele não aparece. Mas esteve sempre presente, sempre a crescer, sempre a envenenar. Nem se dá pelo fim. Um percurso somítico, vil, cobarde. O percurso do medo.
Quero Viver-me de Janela aberta, escancarada. Quero tocar-me nos limites. Conjugar-me com todos os verbos. Chorar. Rir. Perder. Ganhar. Dar. Cheirar. Receber. Abraçar. Ouvir. Sofrer. Crescer. Ver. Sentir. Odiar. Aprender. Beijar. Viver-me… AMAR.
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